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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fuzis e TVs de longo alcance fazem vítimas no Rio e em todo o Brasil.(parte 2)

O nomadismo criminal
Duas, das quatro facções que hoje controlam as atividades ilícitas nas favelas do Rio nasceram no fim dos anos de 1970 no presídio da Ilha Grande.  Lá, no contato com presos políticos, os presos comuns aprenderam um pouco de táticas de guerrilha, que foram adaptadas pras suas práticas de crimes comuns. Isso se refletiu de imediato na grande incidência nos casos de assaltos a bancos ocorridos nos anos 80. A concentração do crime nessa atividade e com sofisticação inédita entre os bandidos comuns, pode ser apontada como uma ”herança” da guerrilha, assim como os seqüestros (sem – nem de longe – querer responsabilizar a militância da luta armada no surgimento desses grupos criminosos).
Com a ascensão de Leonel Brizola – um ex-exilado da ditadura militar, uma vítima da violação dos direitos humanos – ao governo do Rio de Janeiro, uma nova relação entre população pobre e segurança publica começou a se estabelecer. Uma transição de ditadura pra democracia que anistia assassinos e torturadores, cria uma atmosfera de impunidade que faz perpetuar a prática de tortura, assassinatos e outros abusos cometidos por agentes do Estado. E era isso que Brizola queria combater quando proibiu a polícia de meter o pé na porta dos barracos, como ela sempre fez. Incursões em favelas... só com mandado judicial.
Além disso, como tanto os assaltos a bancos como os seqüestros exigem muito planejamento, e os riscos são muito grandes, assim como são grandes as perdas tanto humanas quanto materiais, a bandidagem começou a se focar mais no lucrativo comércio de drogas. Assaltos são crimes contra o patrimônio, e a nossa polícia nasceu em 1809 justamente para garantir o patrimônio, numa época em que o patrimônio estava matando seus donos e fugindo das fazendas para articular a resistência nos quilombos. Já o consumo de drogas vinha adquirindo um glamour cada vez maior no interior das classes média e alta. Assim sendo, trata-se de uma atividade criminosa que ao invés de atacar a classe dominante, ao contrário, acontece com a sua conivência. Essa transição do foco de atuação da bandidagem fluminense do roubo para o comércio varejista de drogas está bem retratada no filme Cidade de Deus, de Fernando Meireles. Nele há uma cena em que o personagem Zé Pequeno reflete, junto com seu amigo Bené, acerca das vantagens do tráfico sobre o assalto. Para isso ele toma como referência o personagem Cenoura, que vendia toxico e, ao contrário deles, ostentava riqueza pela favela.  E se, por um lado as favelas estavam “resguardadas” pela bem intencionada política de respeito aos direitos humanos implementada por Brizola, por outro, elas tem a uma geografia que foi favorável para quem quis se defender de ataque inimigo. Por esse motivo foi nelas que se instalou o grosso do comércio varejista de narcóticos.  
Ter praticamente acabado com os assaltos a bancos e os seqüestros (o Disque-Denuncia foi criado na ocasião do seqüestro do filho do presidente da Firjan, em 1995 e praticamente extinguiu essa prática criminosa no Rio), não significou ter acabado com o crime no Estado do Rio. Ele só se deslocou de modalidade e de território. Entendendo isso, fica fácil de entender que pode-se até instalar UPPs nas centenas de favelas que hoje existem no Rio, mas se não atacarem as raízes econômicas e sociais da criminalidade, ela sempre existirá. Com caras e endereços novos, mas sempre existirá. Como no passado, vai se encerrar um ciclo pra dar inicio a outro. E todo aquele espetáculo midiático montado e transmitido quase que 24 horas por dia via algumas emissoras de TV, só tinha mais uma tarefa além da disputa por audiência, e glamourização da violência do Estado: distrair as mentes pra um fato já cantado nos versos de uma musica dos Racionais MCs:                                               

“Assustador é quando se descobre/ que tudo deu em nada e que só morre pobre.”
                                                                                                                                 

Coletivo de Hip Hop LUTARMADA

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